### - Ouvir, meditar, desacelerar, contemplar, silenciar, são escolhas. Escolhas necessárias por serem tão preciosas para vermos melhor a vida, aprendermos mais a respeito de nós mesmos, tratarmos aflições ocultas e as já reveladas. Somos responsáveis por nossas escolhas, e dentre elas, como escolhemos administrar e viver o tempo que nos é dado. E muitos sofrem, ameaçados pelo medo da exclusão, de serem deixados para trás, serem esquecidos nessa multidão sintonizada 24 horas por dia. Buscam, ora com desespero, ora com agressividade, espaços para chamarem atenção, serem notados, reconhecidos, mesmo temerosos de fracassarem. Desassossegados.
Não se lê bem, não se ouve bem, não se permite tempo de reflexão. Apenas se veem pressionados pela urgência de respostas, pela necessidade de se manifestarem, sinalizando que já sabiam, que estão acompanhando, que estão alertas. Cansados e culpados. Somos tentados a viver, como diz, Giacoia Jr, “a incontinência do entretenimento verborrágico, sempre ocupada e curiosa”. O que escolhemos?
Caim, transtornado, ouviu de Deus: “O pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” (Gn 4.7). A responsabilidade pelas nossas escolhas é coisa séria. E num contexto onde as opções se multiplicam e caem em nosso colo como um grande avalanche, é preciso refletirmos cuidadosamente sobre as implicações, as motivações e as interações que escolhemos nutrir.
Claro que termos algum espaço para o entretenimento pode ser benéfico, e sem dúvida, interações nas redes sociais podem ser muito bem aproveitadas, entretanto, não é preciso aderir a tudo; dizer “nãos” e ter um tempo maior para refletir sobre as escolhas pode ser estratégico na lida com as tensões cotidianas.
Gente frenética tomando todo tipo de decisão, angustiada pelo medo de errar, cuja ansiedade faz ceder a diversos impulsos. Como diz Zygmunt Bauman: “Antes de agir, não há como ter certeza de que os erros não serão cometidos, assim como é impossível saber de antemão se, no fim do dia, teremos provado estar à altura das circunstâncias. Não há receitas para uma ação à prova de erros, totalmente confiável, ‘sucesso garantido ou seu dinheiro de volta’. (…) Viver é assumir riscos”. Mas uma postura possível, é apontada porTournier: “Este então é o segredo: um encontro pessoal com Deus. A vida torna-se uma aventura cheia de gozo que é continuamente renovado. Tudo fala de Deus e Deus nos fala através de cada circunstância. Todas as narrativas da Bíblia e todo o ensinamento da igreja nos levam a um conhecimento mais profundo de nós mesmos. Há uma ampliação do campo da consciência”.
Atuando no mundo virtual, interagindo nas redes sociais, lendo um jornal, encontrando conhecidos e conhecendo outros, tudo, potencialmente, passa ser uma oportunidade para amadurecermos, para aprendermos de Deus. Distraídos ficamos mais vulneráveis à idolatrias. Ansiosos, mais vulneráveis à autodestrutividade. Culpados, podemos desprezar a graça de Deus. Como decidimos viver nossa vulnerabilidade em tempos acelerados? - ###
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