sábado, 6 de abril de 2013

PERIGO EMINENTE...

China se distancia da Coreia do Norte

Publicação: 07 de Abril de 2013 às 00:00


Priscila Arone - Agência Estado

São Paulo (AE) - A crise na península coreana que assustou o mundo ao longo da última semana foi desencadeada na primeira quinzena de fevereiro. Após o teste nuclear realizado em 12 de fevereiro pelo governo de Pyongyang, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou novas sanções à Coreia do Norte. A reação norte-coreana foi anunciar ao mundo que exerceria seu direito de realizar ataques preventivos contra o território norte-americano. As novas sanções foram aprovadas no dia 8 de março, levando a uma escalada de retórica e ações das lideranças da Coreia do Norte, culminando com o alerta de ataque nuclear aos Estados Unidos.
Ahin Youg JoonVeículos transportando trabalhadores retornam à Coreia do Sul, após serem impedidos de chegar ao parque industrial de KaesongVeículos transportando trabalhadores retornam à Coreia do Sul, após serem impedidos de chegar ao parque industrial de Kaesong

Para Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), é cedo para dizer se as atitudes de Kim Jong-un são “mais agressivas” do que as de seus antecessores. “O país tem um padrão, não são as escolhas pessoais que definem as medidas. Existe uma elite, composta por militares e grupos políticos que determinam as ações. Mas, obviamente Kim Jong-un quer se consolidar no poder”, avalia.

“Não dá para supor que o governo da Coreia do Norte não sabe o que está fazendo, que não tem dimensão da situação”, acrescenta o professor Leonardo Trevisan, que também leciona Relações Internacionais na ESPM. Por outro lado, pondera ele, acreditar que Kim Jong-un está preparado porque passou uma temporada fora do país “é um exagero”.

O diretor acadêmico das Faculdades Rio Branco e especialista em Ásia, Alexandre Uehara, discorda. “Ele parece ser mais arrogante do que o pai e realmente acreditar na retórica repetida há décadas de que a Coreia do Norte é uma grande nação, capaz de rivalizar com os Estados Unidos.”

Esse é um ponto crucial para Trevisan. Para ele, o alvo das ações norte-coreanas não é Washington, mas Pequim. Segundo ele, Pyongyang percebeu que perdeu importância para a China quando o país aprovou as novas sanções da ONU contra o país. “É preciso entender a mudança que está acontecendo. A Coreia está agindo assim porque vive uma situação totalmente nova”, afirmou o professor.

Para Trevisan, o fato de a “China ter, pela primeira vez, não apenas deixado de vetar, mas participado da redação das sanções traz a mensagem de que Pequim mudou de posição”.

“Essa mudança coincide com a chegada ao poder, na China, do grupo de Xi Jinping (secretário-geral do Partido Comunista e presidente do país).” O professor acredita que essa nova liderança quer mudar o perfil econômico do país. “A diferença entre o governo de Xi e o anterior (de Hu Jintao) é o perfil de futuro que querem para a China. Enquanto Hu Jintao queria grandes investimentos, grandes siderúrgicas, com forte participação do Exército, Xi fala de inovação, de um novo perfil de investimentos.” Neste contexto, acredita ele, “a Coreia do Norte não interessa mais”, concluiu.

Cukier discorda. “A China vai continuar a ajudar a Coreia do Norte porque não quer de forma alguma a reunificação das Coreias “ A razão, explica ele, é que o mais provável é que o novo país, unificado, seguiria o modelo sul-coreano e seria aliado dos Estados Unidos. “Tudo o que a China não quer é influência norte-americana em sua fronteira, portanto, vai continuar a ajudar o governo de Pyongyang.”

Alertas

Professor Ozi Cukier acha possível que a Coreia do Norte lance um ataque contra o Japão e a Coreia do Sul. “Com o apoio chinês à resolução da ONU, talvez Pyongyang sinta que está perdendo o apoio chinês”, afirmou. “Um ataque, no caso, enviaria a mensagem de que a Coreia do Norte não está mais blefando, que não depende mais da China.”

Isso seria apenas uma mensagem, já que ideia de “nação próspera e poderosa”, presente no lema norte-coreano, não supera o fato de que Pyongyang não tem poderio bélico para sustentar uma guerra, muito menos contra os EUA. “Seria um atrito breve, seguido por um pedido de cessar-fogo”, afirma Cukier. Ele não descarta o uso de armamento nuclear nesse possível ataque.

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