China se distancia da Coreia do Norte
Publicação: 07 de Abril de 2013 às 00:00São Paulo (AE) - A crise na península coreana que assustou o mundo ao longo da última semana foi desencadeada na primeira quinzena de fevereiro. Após o teste nuclear realizado em 12 de fevereiro pelo governo de Pyongyang, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou novas sanções à Coreia do Norte. A reação norte-coreana foi anunciar ao mundo que exerceria seu direito de realizar ataques preventivos contra o território norte-americano. As novas sanções foram aprovadas no dia 8 de março, levando a uma escalada de retórica e ações das lideranças da Coreia do Norte, culminando com o alerta de ataque nuclear aos Estados Unidos.
Ahin Youg Joon
Veículos transportando trabalhadores retornam à Coreia do Sul, após serem impedidos de chegar ao parque industrial de Kaesong
Veículos transportando trabalhadores retornam à Coreia do Sul, após serem impedidos de chegar ao parque industrial de KaesongPara Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), é cedo para dizer se as atitudes de Kim Jong-un são mais agressivas do que as de seus antecessores. O país tem um padrão, não são as escolhas pessoais que definem as medidas. Existe uma elite, composta por militares e grupos políticos que determinam as ações. Mas, obviamente Kim Jong-un quer se consolidar no poder, avalia.
Não dá para supor que o governo da Coreia do Norte não sabe o que está fazendo, que não tem dimensão da situação, acrescenta o professor Leonardo Trevisan, que também leciona Relações Internacionais na ESPM. Por outro lado, pondera ele, acreditar que Kim Jong-un está preparado porque passou uma temporada fora do país é um exagero.
O diretor acadêmico das Faculdades Rio Branco e especialista em Ásia, Alexandre Uehara, discorda. Ele parece ser mais arrogante do que o pai e realmente acreditar na retórica repetida há décadas de que a Coreia do Norte é uma grande nação, capaz de rivalizar com os Estados Unidos.
Esse é um ponto crucial para Trevisan. Para ele, o alvo das ações norte-coreanas não é Washington, mas Pequim. Segundo ele, Pyongyang percebeu que perdeu importância para a China quando o país aprovou as novas sanções da ONU contra o país. É preciso entender a mudança que está acontecendo. A Coreia está agindo assim porque vive uma situação totalmente nova, afirmou o professor.
Para Trevisan, o fato de a China ter, pela primeira vez, não apenas deixado de vetar, mas participado da redação das sanções traz a mensagem de que Pequim mudou de posição.
Essa mudança coincide com a chegada ao poder, na China, do grupo de Xi Jinping (secretário-geral do Partido Comunista e presidente do país). O professor acredita que essa nova liderança quer mudar o perfil econômico do país. A diferença entre o governo de Xi e o anterior (de Hu Jintao) é o perfil de futuro que querem para a China. Enquanto Hu Jintao queria grandes investimentos, grandes siderúrgicas, com forte participação do Exército, Xi fala de inovação, de um novo perfil de investimentos. Neste contexto, acredita ele, a Coreia do Norte não interessa mais, concluiu.
Cukier discorda. A China vai continuar a ajudar a Coreia do Norte porque não quer de forma alguma a reunificação das Coreias A razão, explica ele, é que o mais provável é que o novo país, unificado, seguiria o modelo sul-coreano e seria aliado dos Estados Unidos. Tudo o que a China não quer é influência norte-americana em sua fronteira, portanto, vai continuar a ajudar o governo de Pyongyang.
Alertas
Professor Ozi Cukier acha possível que a Coreia do Norte lance um ataque contra o Japão e a Coreia do Sul. Com o apoio chinês à resolução da ONU, talvez Pyongyang sinta que está perdendo o apoio chinês, afirmou. Um ataque, no caso, enviaria a mensagem de que a Coreia do Norte não está mais blefando, que não depende mais da China.
Isso seria apenas uma mensagem, já que ideia de nação próspera e poderosa, presente no lema norte-coreano, não supera o fato de que Pyongyang não tem poderio bélico para sustentar uma guerra, muito menos contra os EUA. Seria um atrito breve, seguido por um pedido de cessar-fogo, afirma Cukier. Ele não descarta o uso de armamento nuclear nesse possível ataque.
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