## Restaura-nos, ó Senhor! ##
Hoje, a vida continuamente sem pecado é mais um bonito alvo do que uma bonita história. Amanhã, porém, quando trocarmos de corpo e de ambiente, seremos perfeitos como perfeito é o nosso Pai celestial. O apóstolo João sabia muito bem disso quando escreveu: “Estou lhes dizendo isso a fim de que vocês fiquem longe do pecado. Mas se vocês pecarem, existe alguém para interceder por vocês diante do Pai. O nome dele é Jesus Cristo, aquele que é tudo quanto é bom e que agrada completamente a Deus” (1Jo 2.1, NBV).
A história do povo de Israel e a história da Igreja corroboram com essa verdade. É por isso que a porta da confissão de pecado é uma porta continuamente aberta: “Se afirmarmos que estamos livres do pecado, estaremos enganando a nós mesmos. Uma declaração dessas é um erro absurdo. Mas, se admitimos nossos pecados e os confessarmos, ele não vai deixar de nos atender: ele é fiel a si mesmo. Ele perdoará nossos pecados e nos purificará de todo erro” (1Jo 1.8-9, AM).
Tomemos o exemplo de Davi, aquele que disse honestamente ter mais pecados que cabelos na cabeça (Sl 40.12). No Salmo 26, ele proclama repetidas vezes a sua retidão. Diz que tem vivido com integridade, que continuamente segue a verdade e que tem lavado as mãos na inocência. Mas, no Salmo anterior, ele se confessa pecador várias vezes. Pede que Deus não se lembre dos pecados e das transgressões de sua juventude e suplica perdão pelos seus muitos pecados (Sl 26).
Não há nada de estranho na dupla experiência do salmista. Nós também somos assim. Acertamos e erramos. Erramos e acertamos. À semelhança de Pedro, um dia, confessamos com entusiasmo e convicção que Jesus é “o Cristo de Deus” (Lc 9.20) e, dias depois, declaramos sem inibição que nem sequer o conhecemos (Lc 22.57).
A vitória sobre o pecado é possível, mas não é fácil. Paulo fala sobre isso abertamente: “O que a nossa natureza humana quer é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana quer. Os dois são inimigos…” (Gl 5.17). São duas forças dentro de nós em conflito, em oposição, em briga, em guerra. Os dois modos de vida são diametralmente opostos entre si. Nenhum dos dois lados está disposto a ceder, a entregar os pontos, a fazer algum armistício. É uma luta civil sem tréguas, sem rendição e sem fim.
Não é a primeira vez que a ideia de um poder inimigo aparece na teologia bíblica. Na parábola do trigo e joio, Jesus contou que “certa noite, quando todos estavam dormindo, veio um inimigo, semeou no meio do trigo uma erva ruim, chamada joio, e depois foi embora” (Mt 13.25). Na explicação da parábola, Jesus foi bem explícito: “O inimigo que semeia o joio é o próprio Diabo” (13.39).
Precisamos ser realistas e não triunfalistas. Precisamos nos valer da Videira e do Espírito e não só da boa intenção e dos bons propósitos. Ao mesmo tempo devemos ter absoluta certeza de que a vitória final será de Jesus, a quem o Senhor Deus prometeu: “Sente-se do meu lado direito, até que eu ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés” (Sl 110.1). Essa passagem messiânica é uma das mais transcritas no Novo Testamento. Jesus (Mt 22.44), Pedro (At 2.34-35), Paulo (1Co 15.25; Ef 1.20-22; Cl 3.1) e o escritor da Epístola aos Hebreus fizeram uso dela.
Depois de qualquer comportamento duvidoso, a graça de Deus nos alcança mais uma vez e somos recolocados na posição ou no nível em que estávamos, desde que admitamos o erro e o confessemos com humildade. Isso não é outra coisa senão restauração. A bênção da restauração não é só para grandes e longos pecados e escândalos. É para pequenos desvios, cometidos, como costumamos dizer, por pensamento, palavra e obras. Uma restauração atrás da outra é muito melhor do que um pecado atrás do outro!
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