sábado, 2 de junho de 2012

O exagero da emergência e as tradicionais festas juninas

O exagero da emergência e as tradicionais festas juninas
            O Rio Grande do Norte tem 139 municípios em estado de emergência, devido o longo período de estiagem. O decreto assinado pelo Governo do Estado há pouco mais de um mês permite que as Prefeituras agilizem medidas sem a necessidade de cumprir a burocracia – legal – para contratar serviços e obras. Em ano eleitoral, um achado.
Sem querer fazer juízo de valor, essa facilidade preocupa, até porque não é preciso usar lupa para encontrar na lista dos emergenciados municípios que não enfrentam crise por conta da seca.
Quer um exemplo? Guamaré. Montado em estrutura financeira generosa, por conta da riqueza do petróleo, a Prefeitura contratou quase R$ 2 milhões de atrações musicais para a festa de emancipação política. No palco, um desfile de estrelas nacionais, como Zezé di Camargo e Luciano, Fábio Jr., Cheiro de Amor, entre outras.  O estado de emergência não intimidou o prefeito local.
Na região Oeste, o município de Dr. Severiano fez o mesmo, apesar de emergenciado. Abriu o cofre para contratar a cantora baiana Daniela Mercury, que fez show em praça pública. Talvez, e provavelmente, a farra com o dinheiro público, como nos municípios de Guamaré e Dr. Severiano, provocou a reação dos Ministérios Públicos, que recomendaram o fim das festas populares nos municípios em estado de emergência.
A lógica é simples: se existe crise por consequência da seca, não existe dinheiro para bancar festas em praças públicas. Evidentemente, existe a desconfiança de que recursos públicos distribuídos em festas juninas podem ser desviados para outros fins em ano eleitoral.
Em outras ocasiões, vários prefeitos faltaram com zelo e foram flagrados com a mão na massa. Não se pode, porém, generalizar; daí, a recomendação dos Ministérios Públicos deve ser aliada em casos específicos, em que a festa popular como o São João é necessária para fomentar o turismo como mecanismo de desenvolvimento socioeconômico.
No município de Assú, a festa do padroeiro São João Batista ganhou fama como o “São João mais antigo do mundo”. Neste período, pessoas de todas as regiões do Rio Grande do Norte e de outros Estados visitam a cidade, fortalecendo a moeda circulante e gerando renda extra à população local. Esse exemplo ilustra outros, como o Mossoró Cidade Junina, conhecida como uma das três maiores festas do gênero no país. Então, corretíssima a recomendação dos Ministérios Públicos, mas não pode virar regra sem exceção.
O socorro às vítimas da seca deve ser prioridade, porém sem afetar a tradição de um município e do seu povo.

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