Agora é tarde
Em setembro de 2014, no palanque eleitoral, a presidente e candidata Dilma Rousseff (PT) vaticinou: “Sem apoio no Congresso Nacional, não é possível assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais.” Dilma procurava atingir a adversária Marina Silva, que naquele momento se apresentava como ameaça à sua reeleição com o discurso da “nova política”.
A artilharia de Dilma seguiu na sua propaganda eleitoral, levando ao ar um vídeo em que o apresentador alertava: “Duas vezes na nossa história, o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do governo do eu sozinho. E a gente sabe como isso acabou.” Referência a Jânio Quadros, que renunciou, e a Fernando Collor, que teve governo abreviado pelo impeachment.
Naquele momento, Dilma apresentava uma base de apoio formada por 14 partidos, como endosso à governabilidade, coisa que Marina Silva, supostamente, não teria.
Realmente, Dilma estava certa: não se governa só. O povo brasileiro entendeu a mensagem e desceu a segundo plano a “nova política” de Marina, que sequer conseguiu passar para o segundo turno das eleições presidenciais.
Por ironia do destino, a flacidez da base política da candidata Marina castiga hoje a presidente Dilma. Dos 14 partidos que subiram à rampa do Palácio, depois de vencida a batalha eleitoral, apenas cinco continuam com ela; os outros nove ecoam no Congresso a voz rouca das ruas que pede a sua saída.
A solidão ajuda a explicar o processo de impeachment. Ela perdeu consistência no Congresso Nacional porque nunca teve capacidade de articulação e, nas oportunidades que surgiram, a arrogância não lhe permitiu o diálogo com os contrários e sequer com a sua base de sustentação.
Dilma não entendeu o recado das eleições de 2014, que apesar de ela ter vencido e renovado o mandato, o país saiu das urnas dividido. A presidente deveria ter proposto o pacto nacional para tirar o Brasil do buraco, mas preferiu continuar no palanque, em confronto com os adversários, sem perceber que a sua base de sustentação no Congresso estava sendo corroída a passadas largas.
Para piorar, quando viu o tamanho do fosso, levou de volta para o Planalto o seu criador, Lula, como uma espécie de “salvador da pátria”, não observando que, com Lula, subiu à rampa a lama da corrupção, rotulada de Lava Jato.
Depois de tudo isso, Dilma decidiu chamar a imprensa, que ela e o PT consideram “golpista”, para mandar recado aos condutores do impeachment que está disposta a firmar um pacto pelo Brasil.
Agora é tarde.
E qualquer que seja o resultado da votação de hoje na Câmara, a presidente da República perdeu a governabilidade.
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