O Senado mal havia aprovado a reforma trabalhista e Michel Temer apressou-se em convocar os jornalistas para uma declaração. Celebrou a novidade como uma conquista pessoal: “Nós aprovamos uma das reformas mais ambiciosas dos últimos 30 anos. […] É com muita satisfação que eu digo: tive a coragem de propor essa mudança fundamental para o país e, portanto, para todos os brasileiros. Nela eu me empenhei desde o início do meu mandato.”
Longe de representar um atestado de saúde do governo, a declaração de Temer revela a debilidade de sua gestão. Contestada por centrais sindicais, a mexida na CLT avançou não como uma demonstração de força do presidente, mas apesar da crise moral que ameaça o seu mandato. Até governistas que já pregam a substituição de Temer por Rodrigo Maia, presidente da Câmara, como os tucanos Tasso Jereissati e Cássio Cunha Lima, votaram a favor da proposta.
Relator da reforma trabalhista, o também tucano Ricardo Ferraço, já declarou: “A aprovação acontece a despeito do governo do presidente Temer, não por causa dele. Estou convencido disso.”
De resto, consolidou-se no Congresso a percepção de que a atualização da CLT é a última proposta relevante que Temer terá a oportunidade de comentar sentado na cadeira de presidente. A próxima reforma da fila seria a da Previdência. E não há, hoje, um mísero líder partidário que se anime a apostar um níquel na aprovação dessa matéria enquanto Temer estiver sentando na cadeira de presidente.
Por duas razões: além da denúncia por corrupção passiva, da qual tenta se livrar no momento, Temer arrostará outras duas: obstrução de justiça e formação de organização criminosa. Às voltas com as articulações para enterrar escândalos, Temer não teria tempo nem energia para governar. A segunda razão é que o presidente já não dispõe no momento da maioria necessária para aprovar uma emenda constitucional na Câmara: 308 votos, em dois turnos de votação.
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