quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Corrupção: a piada que virou verdade

O Hospital Central da PM do Rio de Janeiro, alvejado pela corrupção – Foto Zulmair Rocha/UOL

A piada é antiga.
Num jantar de quatro prefeitos, os ditos-cujos contaram vantagem sobre roubalheira.
Um puxou a fotografia de uma estrada e confidenciou o tamanho da propina que embolsara: ''Dez por cento''.
Outro mostrou no celular o release da inauguração da nova praça de sua cidade: ''Vinte por cento''.
Um terceiro sorriu com ar de menosprezo ao colega. Folheou a revista da prefeitura, onde se destacava em página dupla uma escola: ''Cinquenta por cento''.
Com o prazer de quem dá o xeque-mate, o último abriu no tablet o arquivo com imagens de um hospital suntuoso: ''Era  maquete. Nunca o construí. Cem por cento!''
A anedota tragicômica talvez tenha inspirado uma turma aqui no Rio.
Uma das armações teria sido o pagamento de R$ 4,2 milhões na compra de ácido peracético para o Hospital Central da PM. O tal ácido é usado para limpar material e equipamento hospitalares.
O busílis é que aparentemente o ácido nunca havia sido entregue.
Com o acordo de delação premiada de dois empresários fornecedores do hospital, agora se sabe o que de fato aconteceu. Suspeita confirmada: não entregaram nada.
Em entrevista ao repórter Eduardo Tchao, um dos sócios da empresa de produtos médico-hospitalares Medical West disse que o hospital encomendou 15 mil galões de ácido.
Seu depoimento: ''A gente já sabia que não iria entregar. Eu fiquei com R$ 1,7 milhão, se não me engano. Aí eu paguei imposto, quase R$ 400 mil de impostos. Cinquenta e cinco por cento teriam que ficar com eles e quarenta e cinco por cento com a gente, da empresa. A gente repassou a ele R$ 2,1 milhões, para o major Delvo''.
Entregavam o butim em bar e shopping.
O major Delvo Nicodemos é um dos oficiais presos.
Trocando em miúdos: dos R$ 4,2 milhões destinados à compra do ácido, corruptos e corruptores ficaram com cem por cento, como o prefeito mais ladrão da piada.
Só não o igualaram totalmente porque, na lavagem do dinheiro, recolheram impostos.

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