sábado, 8 de abril de 2017

‘Efeito Renan’ envenena Câmara contra Temer

Chama-se Michel Temer o principal responsável pelo estremecimento do conglomerado parlamentar que fornecia ao governo uma sólida maioria na Câmara dos Deputados. Ao permitir que Renan Calheiros assumisse no Senado o posto de principal líder da oposição, o presidente despertou nos deputados governistas a sensação de que faziam papel de bobos. Nesse enredo, os tolos da Câmara flertavam com o suicídio político na reforma da Previdência enquanto Renan, líder do PMDB no Senado, fazia pose de herói da resistência às reformas impopulares.
Na definição do líder de um dos principais partidos do bloco pró-Temer, a falta de reação do presidente às críticas de Renan “transformou o Congresso Nacional num imenso subúrbio de Alagoas.” Disseminou-se nos porões de Brasília a informação de que Renan sapateia sobre a cordialidade de Temer porque está mal nas pesquisas no seu Estado. E os deputados, também às voltas com dificuldades para renovar o mandato em 2018, passaram a sonhar com uma vida de alagoano, que lhes permita endurecer na oposição sem que o governo perca a ternura que lhes garante cargos e verbas.
O governo precisa de 308 votos na Câmara para aprovar as mexidas na Previdência. Temer e seus operadores não tinham a pretensão de repetir o extraordinário placar de 366 votos obtido na aprovação da emenda do teto de gastos. Dava-se de barato que a proximidade das eleições de 2018 resultaria em traições. Ainda assim, o Planalto imaginou que, correndo contra o relógio, prevaleceria sem dificuldades no plenário da Câmara. Mas o “Efeito Renan” engrossou o regimento de quintas-colunas, antecipando um fenômeno que Temer não esperava enfrentar senão no final do ano.
Além de perceber que sua maioria na Câmara é de vidro e pode se quebrar, o governo se deu conta de que sua articulação política já se estilhaçou. Um parlamentar do PSDB resumiu o drama vivido pela administração Temer na seara política assim:
“Esse é um governo ornitológico. O presidente (Temer) se comporta como um pavão. O chefe da Casa Civil (Eliseu Padilha) acha que é um falcão. E, juntos, eles se dedicam a sabotar as ações do tucano alçado ao ministério para supostamente exercer as atribuições de coordenador político (Antonio Imbassahy). Temer e Padilha fazem com Imbassahy o que diziam que o Aloizio Mercadante fazia com eles na época em que a Dilma, na UTI, fingiu delegar a coordenação política para o PMDB.”
Como se fosse pouco, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), principal aliado de Temer no Legislativo, é visto como um desafeto pelas viúvas de Eduardo Cunha, que sentem saudade da liderança de resultado$ que era exercida pelo ex-comandante preso em Curitiba. Dispersos, os antigos cães de guarda de Cunha passaram a adotar comportamento errático. A maioria parou de balançar o rabo para o governo quando Maia derrotou o ex-centrão na disputa pelo comando da Câmara. Agora, começam a morder.
Foi contra esse pano de fundo que Michel Temer autorizou nesta semana o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), a modificar o projeto original. O recuo privará o governo de economizar R$ 115,3 bilhões em dez anos. A cifra corresponde a 17% dos R$ 678 bilhões que o Tesouro estimava poupar no período se não houvesse nenhum recuo.
O neo-oposicionista Renan Calheiros rosnou nas redes sociais: “Esses recuos do governo mostram que é possível fazer reforma da Previdência para a próxima década sem seguir a conta do mercado (R$ 738 bilhões em 10 anos), sem empobrecer o Nordeste e sem penalizar os trabalhadores. Bastava ter ouvido antes.”
O que mais incomoda na desenvoltura de Renan é sensação de que Temer não reage porque não pode dizer que seu aliado merece interrogatório, não conversa. Se pudesse, Temer não hesitaria em alardear que sua impopularidade não tem nada a ver com a ruína eleitoral que o senador e seu herdeiro político, o governador alagoano Renan Filho, enfrentam na província.
Se tivesse condições, Temer gritaria aos quatro ventos que o eleitorado de Alagoas talvez torça o nariz para o pai porque a reputação dele está sub judice numa ação penal e em 12 inquéritos, nove dos quais na Lava Jato. Alardearia que o filho talvez seja corrido do governo estadual pela simples e boa razão de que fez uma gestão precária. O silêncio de Temer pode resultar em novos recuos.

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