Liquidificador eleitoral e a política da infidelidade
O liquidificador eleitoral cheio de letrinhas partidárias, e nenhuma
substância que possa garantir resultado saudável à política brasileira,
parece embananar cada vez mais a cabeça do eleitor brasileiro. Veja se é
possível entender:
1 – No Ceará, o PMDB, que tem Michel Temer vice na chapa da
presidente Dilma Rousseff, do PT, vai apoiar o PSDB de Aécio Neves, que
por sua vez apoiará a candidatura a governador de Eunício de Oliveira,
que é líder da bancada do PMDB no Senado Federal, abrindo caminho para o
ex-senador Tasso Jereissati, do PSDB, ser candidato ao Senado.
2 – Na Paraíba, o PT desistiu de apoiar o candidato a governador do
PMDB, seu companheiro nacional, para se abraçar com o PSB, do
presidenciável Eduardo Campos, adversário de Dilma na corrida ao Palácio
Planalto.
3 – No Rio de Janeiro, o PMDB se abraçou com o PSDB, deixando isolado o PT e o palanque de Dilma/Michel.
4 – No Rio Grande do Norte, o PSDB, de Aécio Neves, está grudado com o
PMDB, que apoia Dilma e o PSB, de Eduardo Campos. O DEM, que no plano
nacional tem parceria histórica com o PSDB, faz o mesmo ao se aliar ao
PMDB e PSB.
5 – O PR, que acaba de receber o Ministério dos Transportes para
apoiar a reeleição da presidente Dilma, lhe negará palanque em vários
Estados, inclusive no RN, onde o partido está aliado a legendas de
adversários do Planalto.
Esses cinco exemplos estão longe de ser exceção. A misturada se repete em quase todo o País.
Os políticos, para justificar seus interesses individuais, ressaltam
que as questões locais são preponderantes e, na ponta da língua, falam
que a política é dinâmica.
De fato, a política é dinâmica.
Isso, porém, não justifica a prática da incoerência.
Onde fica a ideologia partidária?
O que faz, por exemplo, o PT se abraçar ao Democratas?
O PC do B somar espaços com o PSD?
E a fidelidade partidária?
Como pode o PMDB formar aliança com o PT na disputa presidencial e formalizar palanque no Estado com os adversários do PT?
Mas, aí, o leitor pode alertar que isso sempre aconteceu. É verdade.
Sempre. E nós, brasileiros, sempre aceitamos. Estamos calejados? Ou sem
opção?
O fato é que o sistema político-eleitoral que temos favorece essa prática desprezível, em que nomes sobrepõem a partidos.
O eleitor, que poderia fazer a limpeza com o voto, acaba sem opção, uma vez que todos, ou quase todos, estão no mesmo patamar.
Aí, o ex-presidente Lula aparece fazendo campanha em rede social pela
reforma política, coisa que ele não teve coragem de fazer quando
comandou o País e o Congresso. Faz favor.