Crítica ao ‘Estado policial’ ignora o Estado vadio
Gilmar Mendes fez uma defesa involuntária da Lava Jato. Em palestra na capital pernambucana, o presidente do TSE e ministro do STF elogiou a operação criticando-a. Disse, por exemplo, o seguinte: ''É preciso colocar limites. Não podemos despencar para um modelo de Estado policial, como também não se pode cogitar de investigações feitas na calada da noite, arranjos, ações controladas que têm como alvo, muitas vezes, qualquer autoridade. Ou o próprio presidente da República…''.
Amigo e conselheiro jurídico de Michel Temer, Gilmar se referia às investigações que resultaram da delação de Joesley Batista. Entre elas a “ação controlada” que levou a Polícia Federal a filmar, na noite paulistana, o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures recebendo a mala com propinas de R$ 500 mil da JBS. O exemplo escolhido por Gilmar é bom porque faz lembrar que as “investigações feitas na calada da noite” nasceram de perversões praticadas no escurinho do Jaburu.
Parafraseando Gilmar, seria lícito afirmar: ''É preciso colocar limites. Não podemos despencar para um modelo de Estado vadio, como também não se pode cogitar de audiências presidenciais concedidas a clepto-empresários na calada da noite, arranjos, ações descontroladas que têm como alvo o erário. Ou o próprio bolso do contribuinte brasileiro.''
Até bem pouco, o Brasil tinha a aparência de um país ficcional. Alguém já disse que parecia um conto de Pedro Álvares Cabral, com prefácio de Pero Vaz de Caminha. O que há de novo no enredo sobre o cotidiano desse estranho pedaço do mapa é que, pela primeira vez desde as caravelas, o braço policial do Estado investiga, encarcera e pune a oligarquia político-empresarial que se imaginava acima das leis.
A investigação comete excessos. Eles são sempre criticáveis e passíveis de correção. Entretanto, os alegados abusos são, até aqui, traques perto dos explosivos escândalos que trasnformaram a coisa pública nessa imensa cosa nostra que envergonha a República.
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