Temer virou uma ameaça ao sucesso de Temer
Em meio a um cenário de degradação moral, o IBGE pendurou nas manchetes uma boa notícia econômica: o PIB cresceu 1% no primeiro trimestre, em comparação com o quarto trimestre de 2016. Foi o primeiro dado benfazejo depois de dois anos de resultados negativos. Michel Temer apressou-se em levar os lábios ao trombone: “O Brasil saiu da recessão.” O presidente levou à internet um vídeo festivo (assista acima).
Num país em que os desempregados são contados em 14,3 milhões, a notícia do IBGE representa, de fato, uma lufada de ar. Mas Temer talvez devesse moderar a queima de fogos. A própria gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, declarou que é cedo para celebrar o fim da recessão: ''É preciso esperar para ver um pouco o que vai acontecer neste ano. A gente teve crescimento no trimestre, mas foi sobre uma base muito deprimida. E, se olharmos no longo prazo, ainda estamos no mesmo nível de 2010.''
Na véspera, o Banco Central anunciara um novo corte de um ponto percentual na taxa básica de de juros. O relatório que expôs a novidade alertou para a “incerteza” em relação ao que está por vir. O texto referia-se claramente à crise política que submete o país ao risco de queda de um presidente da República cuja antecessora foi deposta há menos de dez meses. Na visão do BC, a conjuntura põe em dúvida a aprovação de reformas como a da Previdência —algo que pode envenenar o ambiente econômico e comprometer uma redução dos juros com a rapidez imaginada.
Temer tornou-se uma espécie de personificação do paradoxo. Investigado no Supremo Tribunal Federal sob a suspeita de ter cometido os crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e formação de organização criminosa, o presidente é, no momento, a principal ameaça à recuperação econômica que atribui a si mesmo: é o “resultado das medidas que estamos tomando”, afirmou, sem levar em conta as providências que deixou de tomar para evitar que o melado escorresse para dentro dos palácios do Planalto e do Jaburu.
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