segunda-feira, 2 de julho de 2018
Combate “Não é possível desarticular o combate à corrupção instrumentalizado no Brasil. Mesmo com a troca de comando de líderes de instituições dedicadas a esste trabalho”, explica Antônio José Barbosa, professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB). Ele diz que as instituições só funcionam perfeitamente com pessoas que têm diferenças, idiossincrasias e interesses. “Essas diferenças não têm força para paralisar ou mesquinhar uma operação como a Lava-Jato. A sociedade não permitiria isso”, pondera. Antônio acredita que ainda é cedo para se falar em mudança cultural, mas avalia que, desde o Mensalão (escândalo de corrupção envolvendo a compra de votos Congresso) e o Petrolão (esquema de desvio e pagamentos de propina na Petrobras), algumas instituições mudaram a forma de agir. Exemplo disso foi quando o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot criticou a sucessora, Raquel Dodge, de atrapalhar a Lava-Jato. Janot disse que Dodge e o ex-diretor da Polícia Federal Fernando Segóvia estavam dificultando as investigações e desviando o foco de alguns políticos. Mesmo com as acusações, Antônio destaca que ninguém “impediu” o combate à corrupção. “As diferenças de personalidade e de natureza de cada líder desses órgãos não são fortes suficientes para acabar o trabalho de combate à corrupção. Pode ter momento de maior visibilidade, outros de maior quietação, mas ele vai continuar incessantemente”, conclui. Herança cultural O sociólogo Antônio Carlos Mazzeo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destaca que a corrupção está enraizada na cultura humana. Segundo ele, essa prática ficou mais comum com a acumulação de riqueza e a propriedade privada. “A corrupção tem sido combatida ao longo dos séculos, sobretudo nas sociedades capitalistas que criaram leis e instituições que deram o mínimo controle”, explica. No Brasil, a origem colonial — em que o país se ligava a uma metrópole decadente e corrupta — colaborou com esse perfil. “A corte, que se instalou no Rio de Janeiro, era muito corrupta. A corrupção é endêmica na sociedade brasileira”, acrescenta. Para ele, combate à corrupção tem que ser feito de modo que a população protagonize a discussão, do contrário, há desvios. “Essa bandeira acaba sendo usada pelo político que quer fazer demagogia”, critica.
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