### - Enfim, convidados a entrar. - ###
Pode até parecer cruel demais descrever a
glória como o fato de ser “notado” por Deus. Mas é essa praticamente a
linguagem usada no
Novo Testamento.
O apóstolo Paulo promete àqueles que amam a Deus não, como poderíamos
supor, que eles virão a conhecê-lo, mas que eles acabem sendo
conhecidos por Deus (1 Co 8.3) . Essa é uma promessa muito estranha.
Deus não sabe tudo o tempo todo?
Contudo isso parece temível em uma outra
passagem
do Novo Testamento. Nela nós somos advertidos de que todos nós
acabaremos comparecendo diante da face de Deus somente para ouvir as
espantosas palavras: “Eu nunca o conheci. Afaste-se de mim” [Mt 7.23].
Em algum sentido, que é tão obscuro para o intelecto quanto é
insuportável para os sentimentos, é possível que aconteçam ambas as
coisas: que sejamos banidos da presença daquele que está presente em
todos os lugares e apagados da memória daquele que conhece todas as
coisas. Pode ser que fiquemos completa e absolutamente de fora –
repelidos, exilados, feitos estrangeiros, e final e inexplicavelmente
ignorados.
Por outro lado, é possível que sejamos convidados a entrar, recebamos
as boas-vindas, sejamos bem recebidos e reconhecidos. Caminhamos
diariamente sobre o
fio
da navalha entre essas duas possibilidades incríveis. Aparentemente,
então, a nossa nostalgia de toda uma vida, o desejo de sermos
reunificados com alguma coisa no universo da qual nos sentimos cortados
hoje, e de estar do lado de dentro de alguma porta para a qual ficamos
sempre olhando do lado de fora, não é nenhuma fantasia neurótica; pelo
contrário, é o indício mais verdadeiro da nossa situação real.
E sermos finalmente convidados a entrar significaria tanto honra e
glória que ultrapassam todos os nossos méritos quanto a cura daquela boa
e velha saudade.
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