segunda-feira, 24 de novembro de 2014

### - Enfim, convidados a entrar. - ###

segunda-feira

Pode até parecer cruel demais descrever a glória como o fato de ser “notado” por Deus. Mas é essa praticamente a linguagem usada no Novo Testamento.
O apóstolo Paulo promete àqueles que amam a Deus não, como poderíamos supor, que eles virão a conhecê-lo, mas que eles acabem sendo conhecidos por Deus (1 Co 8.3) . Essa é uma promessa muito estranha. Deus não sabe tudo o tempo todo?
Contudo isso parece temível em uma outra passagem do Novo Testamento. Nela nós somos advertidos de que todos nós acabaremos comparecendo diante da face de Deus somente para ouvir as espantosas palavras: “Eu nunca o conheci. Afaste-se de mim” [Mt 7.23]. Em algum sentido, que é tão obscuro para o intelecto quanto é insuportável para os sentimentos, é possível que aconteçam ambas as coisas: que sejamos banidos da presença daquele que está presente em todos os lugares e apagados da memória daquele que conhece todas as coisas. Pode ser que fiquemos completa e absolutamente de fora – repelidos, exilados, feitos estrangeiros, e final e inexplicavelmente ignorados.
Por outro lado, é possível que sejamos convidados a entrar, recebamos as boas-vindas, sejamos bem recebidos e reconhecidos. Caminhamos diariamente sobre o fio da navalha entre essas duas possibilidades incríveis. Aparentemente, então, a nossa nostalgia de toda uma vida, o desejo de sermos reunificados com alguma coisa no universo da qual nos sentimos cortados hoje, e de estar do lado de dentro de alguma porta para a qual ficamos sempre olhando do lado de fora, não é nenhuma fantasia neurótica; pelo contrário, é o indício mais verdadeiro da nossa situação real.
E sermos finalmente convidados a entrar significaria tanto honra e glória que ultrapassam todos os nossos méritos quanto a cura daquela boa e velha saudade.

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