### - Humildade perfeita. - ###
Lembrei, de repente, que ninguém pode entrar no reino dos céus se não se tornar uma criança; e não há nada tão óbvio numa criança – não numa criança arrogante, mas numa boa criança – quanto seu grande e espontâneo prazer quando a elogiamos.E não somente numa criança, mas até em um cachorro ou cavalo. Aparentemente o que eu considerei humildade impediu-me, por todos esses dias, de entender quais sejam, de fato, os prazeres mais humildes, mais infantis, mais criaturais – o prazer específico do inferior: o prazer de um animal em relação ao homem, de um filho em relação ao pai, de um aluno em relação ao seu professor, de uma criatura em relação a seu Criador.
Não estou esquecendo o quão horrivelmente esse mais inocente desejo é parodiado nas nossas ambições, ou com quanta rapidez, na minha própria experiência, o prazer legalista do louvor por parte daqueles a quem eu deveria elogiar se transforma no veneno mortal da auto-admiração.
Mas eu achava que pudesse detectar um momento – um momento muito, muito curto mesmo – antes que isso acontecesse, durante o qual a satisfação de ter agradado àqueles a quem eu amei corretamente e temi com toda a razão era pura. E isso é suficiente para elevar os nossos pensamentos ao que poderia acontecer quando a alma rendida, para além de toda esperança e quase para além da fé, aprende que pelo menos ela agradou a Deus, a quem ela foi criada para agradar.
Então não vai haver espaço para a vaidade. A humildade estará livre da ilusão miserável de que tenha sido obra da vaidade. Sem nenhuma mácula do que chamaríamos agora de auto-aprovação, a humildade se alegrará da forma mais inocente na coisa que Deus fez com que ela fosse, e o momento que cura o seu velho complexo de inferioridade para sempre também afogará o seu orgulho mais fundo do que o livro de Próspero.
A humildade perfeita dispensa a modéstia. Se Deus está satisfeito com o trabalho, o trabalho pode estar satisfeito consigo mesmo; “não é para ela espalhar cumprimentos por aí com o seu Soberano”.
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