domingo, 21 de julho de 2013

A Consciência Política de Aluízio Alves – II: O chapéu dos políticos

Publicação: 21 de Julho de 2013 às 00:00

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Tomislav R. Femenick - Jornalista, mestre em economia com extensão em sociologia e história, membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Os atores principais da cena política são, indubitavelmente, os agentes partidários, cabendo aos dirigentes dos partidos os papéis principais. São os políticos e, principalmente, seus dirigentes que direcionam a atuação dos partidos. Não há ação política organizada sem que seja pensada, planejada e executada pelos políticos, assim entendidos como as pessoas que atuam em qualquer nível e instância. Líderes de movimentos populares de setores da sociedade civil e de representações profissionais (associações e sindicatos), os assessores que atuam como cabos eleitorais nas zonas periféricas e nos centros urbanos, aqueles que exercem qualquer cargo ou função como representante da administração pública e, também, as pessoas que têm influência na formação da opinião pública também participam desse processo.
Arquivo/TN

Em última análise são essas pessoas que dão sustentação aos partidos políticos, dando-lhes tanta força quanto seja o seu número e quantidade e qualidade de ação.

Procurando saber qual o entendimento que o político Aluízio Alves tinha sobre os políticos, sobre os homens e mulheres que se dedicam à política partidária, perguntei-lhe como ele definiria aquelas pessoas que tomam parte nas organizações, nas disputas internas e nas campanhas dos partidos, sendo ou não dirigentes de siglas ou disputantes de cargos eletivos. Respondeu-me Aluízio:

O ser Político

“Tenho que começar repetindo o chavão bastante conhecido: todo ser humano é um animal político, quer seja ou não integrante de alguma sigla, que seja líder ou liderado de algum movimento social ou partido. Mesmo nas suas ações individuais os homens e as mulheres são agentes políticos. É o dia-a-dia da vida que gera os atos políticos, atos que terminam por impor o comportamento dos gestores partidários. Podemos até dizer que há dois campos de atuação política. O primeiro deles é aquele que diz respeito à realidade do individuo e suas relações sociais, essas como reflexo das ações dessa pessoa com a sociedade. Nesse cenário o cidadão age e reage estimulado por interesses próprios, particulares; o que é bastante legitimo. Entretanto a soma das reações individuais gera anseios e necessidade que culminam na formação da opinião pública, em atos coletivos. O outro campo é a arena onde se luta por ascensão ao poder – o efeito do posicionamento dos indivíduos, através da junção de pessoas que comungam com um mesmo pensamento ou com um conjunto de ideias. É nesse espaço que os partidos, em nome dos seus adeptos, lutam pela conquista do poder.

O problema é a metamorfose que acontece entre o primeiro e o segundo estagio e, notadamente, no desenvolver deste último. É complicado, mas vamos procurar entender. As ideias e reivindicações nascem dos anseios do povo em estado natural. Cabe aos políticos transformá-las, lapidá-las para que (quando transformadas em regras pelo ordenamento jurídico da nação) não agridam os direitos dos que não pensam da mesma maneira, o direito das minorias. Os políticos, quaisquer que sejam, tendem a querer moldar as reivindicações populares, dando-lhes novos sentidos e acomodando-as a um modelo conservador de direita ou de esquerda, de modo que lhes permitam conquistar ou se perpetuar no poder. É cruel, no entanto é a realidade. Em nome de um processo civilizatório das reivindicações naturais das massas, os políticos procurar sempre nelas acomodar a luta pelo poder. Alguns poderão dizer que a política é em si mesma a luta pelo poder. Sei disso. Mas a luta para chegar ao poder, ou para nele ficar, deve ser um meio para atender os desejos das pessoas e não a finalidade primeira dessa luta.

É ingênua a presunção de alguns dos nossos políticos de querer inverter a relação de causas e feitos na luta democrática; e todos nós já caímos nesse pecado, em maior ou menor grau, quer nos órgãos internos dos partidos ou na esfera governamental, no executivo e nos parlamentos. Essa é moeda comum entre os cabos eleitorais, os vereadores, deputados, senadores e governantes municipais, estaduais e federais. E o que nos leva a cair nessa tentação? Vou tentar explicar, não justificar. A prática política é impiedosa no seu dia-a-dia. Nos envolve de maneira absoluta, principalmente os contatos com pessoas que, quase sempre, têm algo a reivindicar ou a pedir. Os liderados reivindicam a aprovação de uma lei, a edição de um decreto, um cargo público. Os líderes pedem votos. Então a liturgia política se transforma em uma via de mão dupla, onde dos dois lados sempre há alguém pedindo algo. Então, as reações individuais que geraram os anseios e necessidades do povo, se transformam em um balcão, onde os negócios nem sempre são claros, onde os agentes dos dois lados às vezes se sentem impotentes; isso porque a força do baixo nível político lhes tolhe os movimentos, as ações e mesmo as reações. Cabe aos políticos honestos se posicionarem e lutar contra este estado de coisa, buscando aperfeiçoar o embate democrático e lutar para que se implante no Brasil uma democracia mais perfeita, mais legitimas e mais representativa daqueles anseios e necessidades do povo”. 

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