### - A opção pelo simples. - ###
Quando conversamos com vários casais nos encontros
que ministramos, nos deparamos com pais preocupados em oferecer o
melhor para seus filhos e, não poucas vezes, desesperados diante das
respostas débeis dos fi lhos. Trata-se de pais conscienciosos que
estimulam os fi lhos a serem bons estudantes e a desenvolverem suas
habilidades motoras e cognitivas ao máximo, por meio de uma série de
atividades extracurriculares, como o aprendizado de uma língua
estrangeira, de um esporte ou de alguma habilidade artística.
Muitas crianças e muitos adolescentes iniciam várias destas
atividades, simultânea ou sequencialmente, às vezes motivados pela
novidade ou pelo estímulo de um amigo próximo, mas desistem depois de
algum tempo alegando desinteresse ou cansaço. Os pais insistem
oferecendo uma atividade alternativa, na esperança de motivar os fi lhos
e finalmente encontrar algo que possa preencher o espaço. Para isso,
muitas vezes têm de se sacrificar por horas a fio em meio ao trânsito
caótico de grandes centros para levar e buscar os fi lhos em tais
atividades.
Por vezes arriscamos perguntar aos pais por que eles acreditam que os
fi lhos necessitam desta infinidade de atividades para as quais
demonstram pouco ou nenhum interesse. E as respostas geralmente oscilam
entre a necessidade de equipar os fi lhos para enfrentarem uma sociedade
competitiva e “por que todos os coleguinhas fazem”. Entretanto, o que
constatamos é que muitos pais terceirizam as atividades lúdico
educativas dos fi lhos porque “perderam” a habilidade do simples.
Perguntei a um pré-adolescente se ele já tinha feito uma pipa ou construído um carrinho
de rolimã junto com o pai. O pai estava ao lado e, constrangido, deu
uma risada sem jeito. Eu perguntei a ele se nunca tinha construído um
carrinho de rolimã em sua infância e ele disse que sim, mas que havia
esquecido como se faz.
Os pais precisam tomar consciência de que o “melhor” investimento
na educação dos filhos é o “tempo” de qualidade que podem dispensar a
eles. Quando um filho ou uma filha brinca com os pais, desenvolve
diversas habilidades (motoras e cognitivas) de uma forma tranquila e
silenciosa, por meio da observação e da coparticipação. O simples fato
de uma menina observar a mãe cortar uma cartolina para elaborar um
cenário em que elas desenvolverão uma brincadeira ou de um menino ajudar
o pai a segurar uma ferramenta já é altamente estimulante para o
desenvolvimento de habilidades. E arriscaríamos dizer que pequenas
experiências como estas são “mais” estimulantes que atividades
extracurriculares, porque nelas está presente um elemento fundamental
para o aprendizado: o “afeto”!
Assim, o “simples”, como ter o fi lho ao lado, sentado no chão,
empilhando pedacinhos de madeira na construção de um castelo, pode gerar
um resultado melhor em termos de aprendizado que cinquenta aulas de
bricolagem para crianças. Sempre me encanta o privilégio e igualmente a
responsabilidade que Deus oferece aos pais de “criar os fi lhos” (Ef
6.4), e penso que tal privilégio não deve ser transferido a terceiros
com tanta facilidade – e até mesmo leviandade em alguns casos. Chego a
pensar que nossa sociedade tem roubado certos direitos exclusivos da
família (entre esses,
o direito de educar os fi lhos) ao criar a mentalidade de que as
crianças precisam ser superdesenvolvidas em inúmeras habilidades
extracurriculares – como diziam os pensadores marxistas, os fi lhos são
do estado e não dos pais, estes são meros procriadores.
Pais, não entreguem a outros
um privilégio que é especialmente dado a vocês. Escolham o “simples”:
tempo de qualidade com os fi lhos para desenvolver atividades lúdicas.
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