Bruno Peron
Inclusão e exclusão são fenômenos que se complementam e se sustentam.
Enquanto, para uns, eles só estabelecem uma relação de oposição, para
outros, eles abrigam segredos sobre mazelas essenciais do Brasil.
A primeira palavra – inclusão – desfila na passarela de discursos
múltiplos, como os que advogam inclusão cultural, social, digital,
educacional, e também a de deficientes físicos e outros grupos
minoritários.
Nunca se falou tanto de inclusão digital quanto nessa era da banda
larga, dos computadores portáteis e dos telefones inteligentes (“smart
phones”).
Esse é o ponto de inflexão numa sociedade que até então era
habitualmente desigual e onde a exclusão compunha o imaginário
tipicamente tropical.
Exclusão, porém, sempre foi uma palavra complexa. Ela não quer dizer
que cada um fica apenas no seu lugar e que ninguém se mete com ninguém.
Ela marginaliza aqueles que gostariam de comer do banquete consumista e
beber da mesma fonte que aqueles que sempre estiveram incluídos.
Há registros tão antigos quanto a origem da feijoada no Brasil. Os
pratos das famílias abastadas continham os cortes melhores de carnes,
enquanto seus escravos comiam as sobras, condimentadas e logo
reinventadas na culinária brasileira.
O de dentro e o de fora, o de cima e o de baixo, instituíram relações
desiguais que se converteriam em sobrados e choças, condomínios e
favelas. Mas essas institucionalizações ocorreriam durante séculos.
O que chama minha atenção é o desespero das elites para manter seus
privilégios e a ousadia dos excluídos a favor de sua inclusão no Brasil.
Há exemplos vários sobre grupos excluídos. Menciono os arrastadores
de veículos do período matinal na Linha Vermelha no Rio de Janeiro (RJ),
que retornam à favela depois de praticar crimes do outro lado do muro
que a separa da avenida. Também falo dos sem-tetos que se hospedam em
moradias informais nas rodovias dos arredores de Campo Grande (MS) até
que entrem em conflito com fazendeiros ou consigam algo do governo.
Qualquer brasileiro tem exemplos abundantes de exclusão, ainda que
sua cidade não seja uma capital de estado, uma área populosa nem
“maravilhosa” como o Rio de Janeiro.
Há políticas que suavizam o problema, mas não conseguem reorientar o
Brasil para um cenário de inclusão sustentada. Temos, logo, programas de
incentivo à banda larga, financiamento de moradias, calçadas para
cadeirantes, bolsas de estudo, e outros empurrões que o governo dá.
Apesar disso, a confiança em tomadores de decisão desce pelo ralo
quando se revelam desvios milionários por funcionários da Petrobrás
(inclusive em cargos de chefia), propinas em licitações do governo
(principalmente em construção civil e transportes), e verbas públicas
que se usam para comprar centenas de telefones inteligentes e passagens
aéreas para deputados.
Políticos no Brasil prevaricam o tempo todo, vencem eleições e mantêm
privilégios vitalícios, usam e abusam do dinheiro suado dos
trabalhadores, e ainda se sentem autoridades régias a quem a população
deve servir.
Portanto, não estranhemos que telefones inteligentes da Apple façam
distinções sociais no Brasil, a violência contra policiais aumente, os
roubos a bancos fiquem mais audazes, e os muros da exclusão fiquem mais
altos.
Ninguém quer ficar de fora dos atrativos da inclusão (cultural,
digital, social, etc.), custe o que custar. Se o Estado não se
encarregar da inclusão, brasileiros darão um jeito de se incluir mesmo
que seja através de violência.
Portanto, inclusão é apenas outra face de exclusão.
Os dois fenômenos merecem reorientação no Brasil.
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