### - Borrões. - ###
A cidade me parece tão despreocupada com o vai e vem de um corre-corre desenfreado e seus pequenos lampejos de raios de sol que tentam abrir espaço entre as nuvens densas.Estou como um observador sentado em uma das poltronas do ônibus que faz o traslado até o aeroporto. Ninguém está na poltrona ao meu lado; tenho pessoas ao meu redor, porém, tudo inspira solidão. A companhia é a música que desperta meus sentidos e tenta dar um pouco de significado ao caminho que me levará a mais um destino.
Um olhar atento e percebo que os “companheiros” são os
Finalmente, chego ao aeroporto e minha surpresa é apenas um aumento incontável de dispositivos móveis, corredores e seus engravatados, famílias, atletas (será que rola um artista?). Sim, escuto algumas poucas conversas; todas elas carregadas de uma agenda apertada, de um atraso no
Segue para aonde? Para cada vez mais longe do outro, para a falsa ilusão de que minha vida está caminhando e ter tempo com o outro é, na verdade, perder tempo?
Pressa, pressa mais depressa, e assim vamos nos permitindo ser envolvidos e muitas vezes engolidos pela máquina opressora e fadada ao fracasso com cara de sucesso; afinal de contas, o mundo não pode parar.
Parar, isso sim seria interessante. E se tudo parasse numa pane geral e eu e você nos víssemos cercados apenas pelo outro? Será que faltariam palavras, não saberíamos lidar com a situação do olho no olho, do ter que se desconectar do mundo virtual e viver a vida real?
Seria exagero de minha parte ou a constatação é que, na realidade, caminhamos para trás como humanidade e as relações estão se tornando frias, instáveis e passageiras?
Diante desse quadro cheio de borrões, convoco os conscientes a não permitirem que esse seja o resumo da ópera de nossos dias.
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