terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O lugar da conclusão e da escuridão

terça-feira

[Uma] objeção [ao conceito de Inferno como punição infligida por Deus] é que nenhum homem caridoso seria capaz de viver uma vida abençoada no Céu enquanto tivesse consciência de uma única alma a vagar ainda pelo inferno; mas será que isso nos torna mais misericordiosos do que Deus?
Por trás dessa objeção existe uma imagem mental de Céu e Inferno que coexiste em um tempo linear unidimensional, semelhante à coexistência que se dá entre as histórias da Inglaterra e da América, de modo que os bem-aventurados consigam muito bem dizer a qualquer hora: “As misérias do Inferno estão acontecendo agora mesmo”.
Mas percebo que enquanto o Nosso Senhor enfatiza os terrores do Inferno com rigor sem reservas, geralmente não enfatiza a idéia de duração, e sim de finalização. A entrega ao fogo destruidor é geralmente tratada como o fim da história, e não como o começo de uma história nova. Não há dúvida de que a alma perdida esteja eternamente fixada à sua atitude diabólica; mas não fazemos a mínima idéia de que forma essa relação pode implicar em uma duração interminável – ou em qualquer duração que seja.
[…] Sabemos muito mais sobre o Céu do que sobre o Inferno, pois o Céu é o lar da humanidade e, portanto, contém tudo o que está implícito em uma vida humana gloriosa. Acontece que o Inferno não foi feito para o homem; o Inferno não é de forma alguma paralelo ao Céu; trata-se, porém, da “escuridão lá fora”, da área em que o ser se desvanece no nada.
>> Retirado de Um Ano com C. S. Lewis, Editora Ultimato.

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